O raciocínio é simples: se meninos e meninas não estiverem preparados para dizer “não”, amanhã outros adereços, como colares e anéis, por exemplo, poderão trazer as mesmas consequências. Para os especialistas, na verdade, no âmago da questão está a sexualidade dos adolescentes e a discussão sobre limites.
A vereadora Lenir de Assis (PT), autora do projeto de lei londrinense, diz que a decisão de criar a legislação surgiu após conversas com órgãos de defesa da criança e do adolescente. “Precisávamos de um projeto que proibisse a comercialização das pulseiras para não compactuar com isso. A conscientização continua, mas o produto não estará mais acessível”. Em Curitiba, o vereador Algaci Túlio (PMDB) propôs uma lei semelhante, que será analisada agora pelas comissões da casa – na próxima semana, será realizado um debate na Câmara com integrantes da rede de proteção à infância.
Os especialistas ouvidos pela reportagem, porém, são categóricos: somente a legislação não basta. Falar sobre sexo é uma discussão que deve ser iniciada em casa e debater o assunto com os filhos é papel dos pais. Segundo eles, é melhor que os adolescentes tenham acesso a informações seguras com a família e não com terceiros. Assim, os pais podem passar os valores que acreditem ser coerentes.
“Sabemos que é difícil e complicado para os pais reconhecer que a criança já se tornou adolescente e tem desejos, mas é um debate importante”, afirma a orientadora do Colégio Dom Bosco Rita Egashira.
Os pais precisam dialogar com os adolescentes para que eles entendam os perigos a que estão expostos ao usar adereços que sinalizem a “vontade” de fazer sexo. Isso porque, por mais que em alguns casos os meninos e meninas entendam o que significa usar as pulseiras, não compreendem a amplitude e consequências que esse ato pode ter. “A família deve focar na autoestima e mostrar que os filhos não precisam entrar em uma relação sexual para agradar os outros. O dizer ‘não’ deve ser algo consciente”, explica a psicóloga Cleia Oliveira.
Além dos pais, a escola também tem uma missão importante na discussão sobre a sexualidade. Se a família vai passar os valores e comportamentos que acredita serem adequados, são os educadores que vão contextualizar os assuntos e debater a sexualidade dentro da sala de aula. “Os professores têm o papel de ajudar a desenvolver o pensamento crítico. O conteúdo não pode estar desvinculado da realidade. E temos exemplos ótimos de prevenção nas escolas”, diz a professora da Universidade Federal do Paraná e doutora em educação Araci Asinelli.
De acordo com a orientadora do Colégio Dom Bosco Francisca Maria de Fawn, a escola não pode se omitir destas discussões. “Devemos questionar qual é a ética dos dias atuais”, diz. “Os jovens têm uma característica contestadora e os educadores podem direcionar isso para boas ações”, explica.
Segundo Araci, em locais onde a escola cumpre seu papel de contextualizar os fatos e os pais dialogam com os filhos, casos de abuso, como o ocorrido com a menina londrinense, são raros. “Este tipo de abuso não é a regra, mas a exceção”, diz. “O adolescente deve estar preparado para dizer ‘não’ e para isso precisa de informação”, opina.
Londrina
Em Londrina, no Norte do estado, a possível aprovação da lei que proíbe a comercialização das “pulseiras do sexo” não deve trazer grandes alterações na prática. Na última quarta-feira, o juiz da Vara da Infância e da Juventude de Londrina, Ademir Ribeiro Richter, já havia proibido a comercialização dos adereços para adolescentes. O novo projeto amplia a proibição para todas as idades.
Desde a semana passada, a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU) já visitou 300 estabelecimentos comerciais para orientar os proprietários a respeito da determinação judicial. Em 45% dos casos, o acessório foi encontrado e os proprietários foram avisados da proibição. “É a mesma coisa do cigarro. Para eu prender o cara que vende cigarro [para menores], tenho de ficar de plantão na frente e pegar em flagrante. É uma dificuldade”, declarou o presidente da CMTU, Nelson Brandão.
Para a ex-presidente da Comissão da Criança e do Adolescente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná Márcia Caldas a decisão do juiz em criar a portaria foi adequada e legal. “Ele cumpriu o Estatuto da Criança e do Adolescente e o novo Código Penal. O juiz agiu com o intuito de proteger”.
Cronologia
Entenda por que as “pulseiras do sexo” passaram a ser preocupação em todo o país.
15/03/2010 – Uma adolescente de 13 anos é estuprada em Londrina, no Norte do estado, depois que um grupo de adolescentes arrebentou uma pulseira preta da jovem. A cor simboliza, no “jogo das pulseiras”, a obrigação de fazer sexo.
31/03/2010 – O juiz da Vara da Infância e da Juventude de Londrina, Ademir Ribeiro Richter, proíbe a comercialização das pulseiras. Os vereadores também discutem a criação de um projeto de lei para proibir a venda do adereço.
05/04/2010 – Em Manaus, a polícia investiga a possível relação entre a morte de duas meninas e o jogo das pulseiras. Uma vítima, de 14 anos, foi encontrada morta em um motel com pulseiras arrebentadas ao lado do corpo. A Polícia Civil do Amazonas pediu à Justiça a proibição do uso e da venda dos acessórios para crianças e adolescentes. O Conselho Tutelar de Manaus já recolheu 3 mil pulseiras, entregues voluntariamente nas escolas.
06/04/2010 – A Câmara Municipal de Londrina votará o projeto para proibir a venda das pulseiras. Curitiba, Várzea Grande, no Mato Grosso, e municípios de Santa Catarina discutem projetos semelhantes, a exemplo do sancionado em Navegantes (SC) em março.
fonte http://www.gazetadopovo.com.br/
3 comentários:
Affe... Cansei dessas "pulseirinhas do sexo". Não acredito nessa besteira, aqui no Brasil ninguém faz isso... Me dá uma prova de que isso existe aqui. Dai eu acredito em você.
Aqui no Brasil ninguem faz isso?
Leia jornal Lúdia, faz muito bem.
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Sobre as pulseiras, é incrível a imbecilidade que um bando de engravatados inúteis tem a capacidade de fazer. Vão perder tempo, dinheiro, e não vão resolver porcaria nenhuma!
Alguem me responda, se meu raciocínio está errado:
Se os assassinatos/abusos ocorreram SÓ por causa das tais pulseirinhas que querem proibir, isso significa que:
Um grupo de jovens observa uma moça, e pensa "Uau! ela está com a pulseirinha preta! vamos estuprá-la e matá-la!"
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Isso vai muito além do que uma brincadeira de crianças mais precoces e mais expostas à sexualidade do que em gerações anteriores, e sem dúvida as meninas que foram vítimas disso não são santas, uma vez que de fato estavam utilizando as pulseirinhas que supostamente significavam que elas queriam fazer sexo. Então elas não são vítimas dos rapazes, são vítimas da própria burrice de seus atos e pensamentos.
Proibir, os governantes adoram, agora ensinar as crianças sobre sexualidade eles não querem.
è o Brasil, fazer o quê.
Perguntei à minha irmã, que está no colegial, se o pessoal do colégio dela usava as pulseiras, ela falou que todo mundo "mais velho" usa, e sabe o que significa cada pulseira (Fortaleza, CE)
Lúdia vamos se atualizar
Concordo com o post do Leonardo, as vítimas não eram santas, concordaram e estavam aptas do que estava prestes a acontecer, porém não previu que poderia ter acabado tragicamente, e não um simples sexo
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