Texto: Gustavo Henrique Ruffo
Fotos: Divulgação
(08-07-09) - Quem vinha acompanhando a série “Lá fora” nos últimos tempos deve ter sentido falta das matérias nas últimas terças-feiras. Gostaríamos de nos desculpar pela demora, mas tivemos algumas dificuldades que impediram a atualização como gostaríamos. Uma delas foi conseguir os preços no Uruguai e no Paraguai. Eles não estão inscritos nos sites das empresas naqueles países. Por isso, tivemos de optar por um outro país que também recebe carros brasileiros, o Chile. O que importa, no entanto, é que estamos de volta. E conservamos a mesma pergunta: por que pagamos tanto a mais pelos automóveis, mesmo por aqueles que nós mesmos fabricamos? Já visitamos dois países nessa jornada em busca de uma explicação. No México, o WebMotors encontrou uma Chevrolet Montana, conhecida por lá como Tornado, a pouco mais de R$ 20 mil. Por aqui, ela, na época da reportagem, começava em R$ 45 mil... Na Argentina, segundo país que visitamos, encontramos outros exemplos de deixar qualquer um de cabelos em pé. Um VW Gol G4, por exemplo, é vendido por aqui a R$ 25,3 mil. Com motor 1-litro, é lógico. Na Argentina, o mesmo Gol é vendido como Gol Power, mas com motor 1,6-litro e uma longa lista de equipamentos: ar, direção, vidros, retrovisores e travas elétricos, toca-CD com MP3 e entrada USB, rodas de liga-leve de aro 15", dois airbags, faróis de neblina e alarme. Com esse pacote, o carro custa 40,92 mil pesos. Convertendo isso para reais, dá R$ 21.241... O leitor poderá dizer que isso acontece porque o Brasil tem acordo de livre comércio com esses dois países, o que eliminaria os impostos, mas e no Chile, que não tem nenhum acordo com o Brasil? Quanto custaria um carro feito aqui na Cordilheira dos Andes? Nosso clima pode ser mais ameno do que o chileno, mas nossos preços é que são de arrepiar. O novo VW Gol, por aqui, é vendido a R$ 27,57 mil. Sem rodas de liga leve, sem ar-condicionado, sem nada. Só o motor 1-litro. No Chile, o mesmo Gol, feito exclusivamente no Brasil, só é vendido na versão Power. Ela inclui motor 1,6-litro, direção hidráulica, vidros elétricos dianteiros e trava elétrica. Custa 5,99 milhões de pesos chilenos, o que, ao câmbio de hoje, dá R$ 21,8 mil. O mesmo carro, no Brasil, custa R$ 33,73 mil. Se você equipar o Gol Power do Chile com rodas de liga-leve de aro 15”e ar-condicionado, ele sai por 7,09 milhões de pesos, o que daria R$ 25,8 mil. No Brasil, com o mesmo nível de equipamentos, o Gol não custa menos de R$ 38.635. Que tal mudar de marca e consultar quanto custaria um Fiat Palio na terra de Pablo Neruda? Por lá, o Novo Palio, ainda com os faróis antigos, custa 5,55 milhões de pesos, algo como R$ 20,2 mil. Com motor 1,4-litro, direção hidráulica, vidros dianteiros e travas elétricos. No Brasil, o Palio 1-litro, só com direção hidráulica de série, começa em R$ 28,79 mil. O 1,4-litro parte de R$ 33,11 mil. Equipado como o modelo chileno, ele chega a R$ 34.141. São pouco menos de R$ 14 mil de diferença. A linha Chevrolet no Chile é muito diferente da brasileira. Aparentemente, naquele país só são vendidos dois produtos feitos por aqui, a Chevrolet S10 e a Montana. No Chile, a picape derivada do Corsa é vendida em duas versões, ambas com motor 1,8-litro: a mais básica, que custa 6.711.600 pesos (R$ 24,43 mil) e a Sport, que sai por 7.794.500 pesos (R$ 28.371). A versão Sport tem os mesmíssimos itens que a Montana Sport vendida no Brasil. Só que, aqui, ela custa R$ 45.086. Em outras palavras, você paga R$ 16.715 a mais do que um chileno para ter o mesmo carro, feito no Brasil. Passemos à Ford, mais especificamente ao brasileiríssimo EcoSport. Por aqui, ele é vendido, na versão XLT com motor 1,6-litro, a R$ 58.745. A mesma versão, com os mesmos equipamentos (inclusive dois airbags dianteiros), sai no Chile por 9,49 milhões de pesos. Isso dá, em reais, a bagatela de R$ 34.543, ou R$ 24.202 a mais. Sem frete pelos Andes... Por fim, vale conferir um campeão da relação custo/benefício, o Renault Logan. Em sua versão mais cara, a Dynamique, com motor 1,6-litro 16V, ele é vendido no Chile a 6,99 milhões de pesos, ou R$ 25.442. Essa versão é mais equipada do que a Privilège, a mais completa à venda no Brasil, por trazer também ABS, item que não está à disposição nem como opcional para os brasileiros que fabricam o carro. Mesmo mais pelada, a versão Privilège, nacional, custa R$ 43,59 mil. São R$ 18.148 a mais. Por menos. Fiquemos apenas nestes exemplos. Sempre haverá quem diga que o Chile é um país que cobra pouquíssimos impostos, o que o igualaria a países com acordo automotivo com o Brasil. Mas, cá entre nós, há custos de transporte e também impostos que incidem sobre nossos produtos até que eles cheguem a consumidores de outros países. Ainda assim, eles pagam menos do que os brasileiros pelos mesmos produtos, quando não por veículos mais completos. É contra isso que se instituiu, em maio, o Dia da Liberdade de Impostos. Ainda que eles sejam realmente nocivos e atrapalhem os preços, eles não devem ser a única explicação para o problema. Segundo uma coluna do jornalista Joel Leite, a margem de lucro das fábricas é três vezes maior no Brasil. Se os brasileiros conseguissem distinguir o que é preço e o que é imposto, como os norte-americanos, a resposta seria mais simples. Complicada ou não, é a ela que pretendemos responder ao final dessa série. pra matar saudade |
Um comentário:
É por isso que torço que em 2012 acabe mesmo o mundo, só assim pra deixar de passar desgosto.
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