num sei si oceis lembra, têvi um tempo qui o bão memo era usa kichuti, num tinha essa di rebuqui, al istar, náiquê, adida. O negóço era kichuti, inté nus baile ieu ia di kichuti, ô trem bão sô! Si ocê penso o quieu tô pensanu, ocê já devi tá lembranu quandu usava conga pá i na iscola, né!
Num sei como foi as leição aí pás banda doceis, mai aqui na Varginha us eleitô mandô os dinossauro i todas sua cria di vórta pá toca, imbora ainda tenha sobrado uns lá na Cama dus vereadô. A turma du balaio di gato arresorveu imita a vaca e fôro tudo pô brejo. Tamém né, o Tonho, mais véio do que nunca, tava pareceno pastor evangéico prometeno o fim de todos pobrema do povo, só fartô manda passá a sacolinha. Prus que tinha isquecido qui eli já tinha pormetido fazê uma praia só pus pobre numa ôta eleição, dessa veiz eli pormeteu piscina olímpia e terreno à vontadi. Pá num fica pá trais o tar di Dotô Suprício pormeteu num cobrá imposto dos póbre, tádinho dos póbre né! Pormeteu ainda, diminui u tamanho dus óimbus pá módi diminui o preço das passage, construí uma rodovia pá num sei ondi lá na direção da fróra i meiorá a curtura dus varginhense prantânu mais mandioca e mio. O Tonho mais novo, num pormeteu nada, o negóço dele era incruzão i discuti os pobrema cum o povo, toda hora eli tava quereno incrui argúem num sei ondi, foi uma gaguera só... O Corujinha qui ganhô as eleição, fico só im cima du tôco cuzóio bem aberto i repetino as prosa du Mauro. Cumpadi Irineu inté comentô: “si dessi jeito eli foi eleito, já imaginô si tivéssi mais traquêjo”. Pois é minha genti, tomára qui nóis num fique cum a abêia zumbindo dentro da cabeça pur quatro anu, né!
Oceis ieu num sei, mai ieu gosto dumas cumida gostosa. Intão, proceis fica babanu, vô dá uma receita das boa aqui da cumadi Cráudia, cuzinhera di mão cheia e prato tamém. Coisa boa di comê é môi di repôi nu ái i ói. Prestenção nus ingerdienti: 5 denti di ái, treis cuié di ói, uma cabes di repôi, uma cuié di mastumati, sar a gosto. Módifazê: casca os ái, pica i soca os ái cum sar, quentá o ói na cassarola, fóga o ái socado no ói bem quentim, pica o repôi bem finim, fogá o repôi nu ói bem quentim cum o ái fôgado, pôe a mastumati i mexi cum a cuié di pau pá faze o môi. É bão servi cum arrôis i meleti di ovo caipira. Adispois é só comê i lambê os beiço i gardece a Deus pela bundância de comida boa. Ôta veiz nóis dá mais receita das boa!
Conta um causo poceis, diz qui o dotô mei qui metido a besta chegô na roça lá em Guapé e foi direto ôia o chiquero ondi o cumpadi Arlindo tava trabaiano. Pá módi tirá uma casquinha cum eli, priguntô: “Como se chama aquele porco velho ali no canto?”. Cumpadi Arlindo arrespondeu: “Aquele ali si chama Ocê”. O Dotô num gosto nadica di nada da resposta, intão priguntô di novo: “ Si aqueli porco si chama ‘Ocê’, aquela outra coisa fedorenta ali deve se chamar a ‘Mãe do Ocê’”. Cumpadi Arlindo qui num é bobo nem nada, arrespodeu di pronto: “ Óia, não sinhô, aquele ali é o ‘pai do Ocê’, a ‘mãe do Ocê’, nóis cumeu antisdionte!”.
Falanu di caipira, Cumpadi Arceu mi contô essi causo qui mi feiz ri inté górinha memo. Prestenção: Diz qui o caipira ali das banda di Careaçu, inteligente dimais dá conta se ofereceu prum imprego numa loja daquelas qui tem di tudo lá num shópi im Belzonti. Fala verdadi era a maió loja du mundo tinha di tudo a danada. Intão o gerente priguntô pro caboquim:
- Você já trabalhou com vendas alguma vez na vida?
- Craro ieu fazia uns negócim lá na roça!!!
O gerente qui gostô do jeito minero de sê do cabocro disse:
- Pode começar amanhã cedo, e no final da tarde venho verificar como você se saiu!
Passado o dia qui parecia num termina mais, o gerente se achegô do caipira pá vê o qui eli tinha produzidu i priguntô:
- Quantas vendas você fez hoje?
- Uma!
- Só uma? A maioria dos meus vendedores faz de 30 a 40 vendas por dia. De quanto foi a venda que você fez?
- Dois mião i mei di rear!
- Como você conseguiu isso?
- Uai, sô. O crienti entrô na loja primero ieu vendi um anzór pequeno, adispois um anzór médio, mais pá frenti um anzór dus grandi. Daí ieu vendi uma linha fina de pescá, uma média e ôta bem grossa, pá pescaria das grande. Priguntei onde ele ia pescá ele mi arrespodeu quia pescá nu mar. Intão ieu falei quieli ia precisá dum barco dusbão, i eli comprô um barco di primera. Aí ieu disse prêle qui um carro pequeno num ia podê puxa o barco, então vendi uma caminhonete daquelas 4 pur 4...
O gerente mei imbasbacadu, sem querê querditá nu qui oviu, priguntô:
- Você vendeu tudo isso para um cliente que veio aqui para comprar um anzol pequeno?
- Uai, não sinhô, eli entrô aqui na verdadi quereno um pacote de módess pá muié deli, aí eu falei: “Já qui o finar di semana do sinhô tá perdido memo, quitar fazê uma baita pescaria!!!
Si oceis gostarô num sei, ieu já tô gostano muito, manda um emeio pá nóis ou prô Yorkuti(sem víru), quieu tô ino cumê uma traira das boa lá no Cumpadi Ernesto, ocê já foi? Inda não? Ô coitadu! Cumpadi Irineu é quem diz: “ Quem ri por úrtimo só pódi sê besta!”. Nóis é bão di filosfia tamém! Larga meu pé narfabeto ambientar! Sô brasileiro, uai! Nóis votô manóis xinga. Quem polui o meiambienti acaba cum a vida da genti. Pópará di poluí, sujão! Òia os musquito da dengui di novo! Bem quieu tô avisano, hein!Tempocabô!
Psiu: quarqué erro qui oceis notá, num repára não!
fonte[http://conexaocaipira.blogspot.com/]
Ser goiano
Ser goiano é carregar uma tristeza telúrica num coração aberto de sorrisos. É ser dócil e falante, impetuoso e tímido. É dar uma galinha para não entrar na briga e um nelore para sair dela. É amar o passado, a história, as tradições, sem desprezar o moderno. É ter latifúndio e viver simplório, comer pequi, guariroba, galinhada e feijoada, e não estar nem aí para os pratos de fora.
Ser goiano é saber perder um pedaço de terras para Minas, mas não perder o direito de dizer também uai, este negócio, este trem, quando as palavras se atropelam no caminho da imaginação.
O goiano da gema vive na cidade com um carro-de-boi cantando na memória. Acredita na panela cheia, mesmo quando a refeição se resume em abobrinha e quiabo. Lê poemas de Cora Coralina e sente-se na eterna juventude.
Ser goiano é saber cantar música caipira e conversar com Beethoven, Chopin, Tchaikovsky e Carlos Gomes. É acreditar no sertão como um ser tão próximo, tão dentro da alma. É carregar um eterno monjolo no coração e ouvir um berrante tocando longe, bem perto do sentimento.
Ser goiano é possuir um roçado e sentir-se um plantador de soja, tal o amor à terra que lhe acaricia os pés. É dar tapinha nas costas do amigo, mesmo quando esse amigo já lhe passou uma rasteira.
O goiano de pé-rachado não despreza uma pamonhada e teima em dizer ei, trem bão, ao ver a felicidade passar na janela, e exclama viche, quando se assusta com a presença dela.
Ser goiano é botar os pés uma botina ringideira e dirigir tratores pelas ruas da cidade. É beber caipirinha no tira-gosto da tarde, com a cerveja na eterna saideira. É fabricar rapadura, Ter um passopreto nos olhos e um santo por devoção.
O goiano histórico sabe que o Araguaia não passa de um "corgo", tal a familiaridade com os rios. Vive em palacetes e se exila nos botecos da esquina. Chupa jabuticaba, come bolo de arroz e toma licor de jenipapo. É machista, mas deixa que a mulher tome conta da casa.
O bom goiano aceita a divisão do Estado, por entender que a alma goiana permanece eterna na saga do Tocantins.
Ser goiano é saber fundar cidades. É pisar no Universo sem tirar os pés deste chão parado. É cultivar a goianidade como herança maior. É ser justo, honesto, religioso e amante da liberdade.
Brasilia em terras goianas é gesto de doação, é patriotismo. Simboliza poder. Mas o goiano não sai por aí contando vantagem.
Ser goiano é olhar para a lua e sonhar, pensar que é queijo e continuar sonhando, pois entre o queijo e o beijo, a solução goiana é uma rima.
(José Mendonça Teles. Crônicas de Goiânia. Goiânia: Kelps, 1998)
terça-feira, 14 de abril de 2009
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